Tratamento Conservador

O que significa tratamento conservador da doença renal crônica?

O tratamento conservador consiste em todas as medidas clínicas (remédios, modificações na dieta e estilo de vida) que podem ser utilizadas para retardar

a piora da função renal, reduzir os sintomas e prevenir complicações ligadas à doença renal crônica. Apesar dessas medidas, a doença renal crônica é progressiva e irreversível até o momento. Porém, com o tratamento conservador é possível reduzir a velocidade desta progressão ou estabilizar a doença.

Esse tratamento é iniciado no momento do diagnóstico da doença renal crônica e mantido a longo prazo, tendo um impacto positivo na sobrevida e na qualidade de vida desses pacientes. Quanto mais precoce começar o tratamento conservador maiores chances para preservar a função dos rins por mais tempo.

Quando a doença renal crônica progride até estágios avançados apesar do tratamento conservador, o paciente é preparado da melhor forma possível para o tratamento de diálise ou transplante (consultar informações sobre hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal).

Quais são as principais medidas usadas nesse tratamento?

Algumas dessas medidas serão usadas em todos os pacientes, enquanto outras só serão usadas em casos especiais, por isso a avaliação pelo médico nefrologista é essencial para definir quais as recomendações devem ser feitas em cada paciente. Tentaremos listar aqui as principais estratégias usadas no tratamento conservador:

Controle adequado da pressão arterial: essa é uma medida fundamental para retardar a progressão da doença renal crônica. O ideal geralmente é que a pressão seja mantida abaixo de 130 x 80 mmHg. A restrição de sal (sódio) é muito importante, para isso evitar utilizar temperos prontos, alimentos enlatados, sucos em pó, salames, queijos.

Controle adequado da glicemia: para os pacientes diabéticos esse é um passo fundamental nessa etapa do tratamento, sendo recomendado de forma geral manter a hemoglobina glicada (HbA1c) menor que 7% e a glicemia de jejum abaixo de 140 mg/dl. Uma dieta adequada com redução de carboidratos (massas, batata, arroz), preferindo alimentos integrais.

Interrupção do tabagismo: atualmente existem várias formas de tratamento para parar de fumar, incluindo tratamento psicológico e medicamentos. Parar de fumar traz benefícios não só para os rins, mas também para o sistema cardiocirculatório.

Tratamento da dislipidemia: reduzir os níveis de colesterol apresenta benefícios no tratamento desses pacientes, não só para os rins, mas também para o sistema cardiocirculatório. Evitar frituras, molhos e carnes gordurosos.

Uso de remédios que diminuam a perda de proteínas pelos rins (proteinúria): a proteinúria significa que os rins têm alguma lesão, então reduzir a perda de proteínas é fundamental para desacelerar a progressão da doença renal crônica. Há vários remédios disponíveis hoje que auxiliam na redução da perda de proteína na urina. O remédio ideal e a dose a ser utilizada serão definidos pelo médico nefrologista.

Uso de medicações que melhorem os sintomas: no caso de inchaço, por exemplo, podem ser usados a restrição de sal e diuréticos (remédios que aumentam a produção de urina) prescritos pelo médico. Porém estes medicamentos só devem ser alterados pelo seu médico nefrologista, pois podem piorar a função renal se mal utilizados.

Tratamento da anemia: anemia é diminuição da quantidade de glóbulos vermelhos no sangue. Os glóbulos vermelhos (hemácias) são responsáveis pelo transporte de oxigênio para todas as células do nosso corpo. Quando o paciente tem anemia, dependendo da gravidade, ele pode sentir desânimo, falta de apetite, fraqueza nas pernas, sonolência, falta de ar quando caminha, etc.

Será fundamental a avaliação pelo médico da intensidade da anemia, dos estoques de ferro e de alguns hormônios; é comum que pacientes com doença renal crônica tenham insuficiência de eritropoetina (hormônio produzido pelos rins, importante para a produção dos glóbulos vermelhos); às vezes é necessária a reposição desse hormônio e também dos estoques de ferro. A reposição de eritropoetina, na maioria das vezes, é feita por via subcutânea, conforme a prescrição do médico.

Tratamento dos distúrbios ósseos e minerais associados à doença renal crônica: é comum ocorrer uma queda dos níveis de cálcio, de vitamina D e/ou um aumento

do fósforo e do hormônio produzido pelas glândulas paratireoideanas (paratormônio-PTH). Para cada uma dessas combinações existe um tratamento específico

a ser instituído.

Para que o nosso organismo funcione corretamente, o cálcio deve estar presente, ele é importante para a formação do osso, mas também é muito importante para que ocorra a contração de qualquer musculatura do nosso corpo, inclusive a do coração. Infelizmente, ele só é absorvido no nosso intestino se lá também estiver presente a vitamina D ativa (calcitriol). Como a formação da vitamina D ativa ocorre nos rins, os pacientes que têm insuficiência renal podem ter cálcio baixo no sangue.

O excesso de fósforo é eliminado por meio dos rins, portanto, no paciente que tem insuficiência renal, ele tende a se acumular no sangue. O fósforo alto no sangue causa prurido (coceira) e estimula a produção do paratormônio (PTH). Seu nefrologista pode receitar um quelante de fósforo, medicação que deve ser utilizada juntamente com as refeições que têm alimentos ricos em fósforo. A medicação vai grudar em parte do fósforo presente na comida e fazer com que ele seja eliminado junto com as fezes. Talvez você precise fazer uma dieta com redução de fósforo.

O hiperparatireoidismo é a doença que ocorre devido ao estímulo contínuo das paratireoides pelo cálcio baixo e fósforo alto. As glândulas paratireoides crescem para aumentar a produção. Os níveis altos do PTH no sangue levam a uma inflamação e destruição progressiva dos ossos.

Tratamento da acidose no sangue: acidose é a condição de acidez que se desenvolve no sangue porque os rins não conseguem colocar para fora o excesso de ácido que se forma continuamente com o funcionamento do nosso organismo. Às vezes, é necessário o uso do bicarbonato de sódio para ajudar a corrigir esta situação. A acidose pode contribuir para o aumento do potássio no sangue.

Tratamento do aumento do potássio no sangue (hipercalemia): o potássio é um mineral que tem como fontes principais as frutas e os vegetais. No paciente que tem Insuficiência renal, ele tende a se acumular no sangue, pois o rim deixa de eliminá-lo. Quando os níveis de potássio no sangue ficam muito altos, pode ocorrer fraqueza muscular intensa, arritmias e até parada cardíaca. A principal forma de tratamento é através da dieta, evitando alimentos ricos em potássio como abacate, banana-nanica, banana-prata, figo, laranja, maracujá, melão, tangerina, uva, mamão, goiaba, kiwi, feijão, chocolate, extrato de tomate. Outras formas de ajudar no tratamento é uso de quelante de potássio (Sorcal). A medicação vai grudar em parte do potássio presente na comida e fazer com que ele seja eliminado junto com as fezes. Mas seu médico poderá lhe informar melhor o nível do seu potássio e qual dieta ou medicação utilizar;

Dieta adequada: não existe uma dieta única para todos os pacientes. Cada paciente deverá ser avaliado de forma individual e ter sua dieta elaborada com o auxílio de um nutricionista. Em geral, a restrição alimentar aumenta na medida em que a doença progride e na medida em que medicamentos não são capazes de manter os níveis de potássio, fósforo e ácidos dentro do desejado.

De uma forma geral, será recomendada uma dieta com restrição de sal (em torno de 3,0 gramas por dia); nas fases mais avançadas da doença, poderá ser necessária a restrição de água (dependendo se o paciente persiste com inchaço, apesar da restrição do sal e do uso de diuréticos), restrição de alimentos que contenham muito potássio e/ou fósforo (leite, carnes, refrigerantes a base de cola). Atenção especial deve ser dada ao consumo de proteínas, pois a quantidade e o tipo de proteína a ser ingerida variam com a fase da doença renal e a causa da mesma.

É comum que os pacientes e familiares interpretem estas restrições de maneira bastante severa, ou mesmo como uma punição, já que esse tipo de aconselhamento muda o estilo de vida do paciente. Porém, a restrição exagerada pode resultar em desnutrição, o que é prejudicial para o paciente. Por outro lado, não aderir às recomendações da dieta levará a complicações e prejuízo para o paciente. Cada caso é um caso, e as modificações da dieta dependem da fase da doença que o paciente se encontra. O médico e o nutricionista são os profissionais que vão ajudar o paciente a encontrar a melhor solução para cada caso.

Preparo do paciente para terapia de diálise ou transplante: essa fase do tratamento inicia-se quando o paciente apresenta em torno de 20% da sua função renal e depende da velocidade com que a sua doença progride; à medida que a função renal se aproxima de 15% é fundamental preparar o paciente para o tratamento de substituição da função renal (diálise ou transplante). A realização desses procedimentos permitirá que o paciente tenha menos complicações quando for iniciar a diálise ou submeter-se ao transplante de rim.

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