Com a pandemia de COVID19, pacientes com doença renal crônica em hemodiálise não podem ficar em casa devido ao tratamento
Devido à pandemia de COVID19, a recomendação que mais se ouve nos últimos dias é: Fique em casa. De fato, o isolamento social é a orientação que mais faz sentido no cenário atual do país e que pode ajudar a conter o avanço exponencial do novo Coronavírus. Mas como ficam os mais de 130 mil pacientes que fazem hemodiálise (HD) no Brasil, que estão no grupo de risco de desenvolver complicações do vírus, e que precisam se deslocar de suas casas para os centros de diálise para a continuidade do tratamento? Que necessitam se dirigir aos centros, em geral três vezes por semana, para sessões de diálise com duração de três a quatro horas e, consequentemente, se manterem vivos?
De acordo com a nefrologista Andrea Pio de Abreu, diretora da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o risco de contrair o COVID19 é o mesmo para pacientes renais crônicos e para a população geral, quando adotam as mesmas medidas de prevenção e quando estão em área de risco similar. “Neste sentido, ficam mais vulneráveis os pacientes renais crônicos que não podem manter isolamento social, em áreas onde há transmissão comunitária e sustentada, sobretudo quando não é possível manter distanciamento adequado de outras pessoas possivelmente infectadas. Como exemplo, os pacientes que precisam de transporte público, ou transporte por meio de vans das prefeituras locais, para irem aos centros de diálise podem estar mais vulneráveis pela aglomeração de pessoas”. A nefrologista explica que em casos de infecção pelo Coronavírus, é essencial que os pacientes renais crônicos em hemodiálise observem seus sintomas (febre, coriza, tosse seca, falta de ar) e entrem em contato com sua clínica para orientações antes de chegar a sua unidade de diálise. “Informar-se antes do fluxo a ser adotado na clínica em caso de infecção é fundamental.”
A diretora da SBN garante que não é a doença renal crônica (DRC) que deixa um paciente mais vulnerável a contrair o vírus e sim, a exposição aos fatores de risco de contágio que podem ser inevitavelmente mais frequentes neste grupo. Sobre o risco maior que o paciente com DRC tem neste momento preocupante, Dra. Andrea afirma que está na complicação da doença. “De fato, relatórios da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde colocam as pessoas que têm doença renal crônica dentre as mais suscetíveis às complicações do Covid19. Isso significa que o maior acometimento pulmonar e, consequente necessidade de internação, é mais frequente neste grupo do que na população geral. A maior parte dos pacientes com DRC também apresentam pelo menos outro fator de risco: hipertensão e/ou diabetes – as duas maiores causas de doença renal no Brasil e no mundo , assim como idade avançada”, pontua.
Vale ressaltar que, além do cuidado com os pacientes, o(a) nefrologista precisa estar atualizado constantemente quanto às recomendações, normas e procedimentos envolvidos nos centros de terapia renal substitutiva para prevenção, controle e resolução adequada quando surgirem casos positivos de Covid19. “As recomendações têm sido amplamente divulgadas, englobando desde o paciente renal crônico em tratamento conservador, pacientes em diálise, pacientes com doença renal na faixa etária pediátrica, pacientes com doenças raras e transplantados renais. São dinâmicas e podem ser atualizadas conforme o cenário da pandemia no país”, ressalta a diretora.
Hoje, no Brasil, mais de 130 mil pacientes realizam HD em apenas 7% do total de municípios brasileiros que contam com serviços de hemodiálise, e vivem um quadro de subfinanciamento, o que faz com que as clínicas percam sua capacidade de investimento, cujo resultado, é uma superlotação das clínicas existentes, com redução de vagas para novos pacientes que se mantém represados nos hospitais e o encerramento das atividades de clínicas em todo o país. O presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Marcelo Mazza, aponta: “Se a pandemia pelo Covid19 atingir as clínicas de HD, provocando a necessidade de isolamento dos pacientes, abertura de turnos de diálises extras, aumento e reposição de recurso humano em virtude da contaminação do staff profissional para a contenção a do vírus, urge a necessidade de aporte financeiro pelo governo federal pelo risco de insolvência das unidades e, consequentente, falência no tratamento oferecido em todo território nacional. Em vista disto, a SBN alerta seus representantes e o governo na esfera federal, estadual e municipal que o enfrentamento desta situação é inadiável. Devemos trabalhar de forma conjunta para o enfrentamento desse desafio que atinge todo o mundo e não pode ser postergado.”
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