Descrição: Questões ambientais têm sido foco de debate e preocupação em diversos setores. Na Nefrologia, o assunto merece destaque já que a diálise é uma prática que consome recursos (água e energia) e gera uma quantidade significativa de resíduos.
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Diálise sustentável: uma proposta para o Brasil
No Congresso Americano de Nefrologia, em outubro de 2018, San Diego, uma sessão chamou atenção entre muitas: “Assuntos Prioritários na Nefrologia Mundial”. Dentre outras coisas, debateu-se como as alterações climáticas globais poderiam interferir na Nefrologia. Questões ambientais têm sido, de fato, foco de debate e preocupação em diversos setores. Na Nefrologia, o assunto merece destaque já que a diálise, principalmente, é uma prática que consome recursos (água e energia), gera uma quantidade significativa de resíduos e tem, portanto, grande impacto no meio ambiente.
De acordo com Dr. José A. Moura Neto, nefrologista e suplente do Departamento de Diálise da SBN, há alguns meses, um grupo liderado por nefrologistas australianos tem angariado apoio entre colegas de muitas partes do mundo, em uma iniciativa global denominada “Green Nephrology” (Nefrologia Verde ou Sustentável, em português). “Em San Diego, ocorreu a primeira reunião sobre o tema com participantes de diversas nacionalidades. No mundo, entretanto, essa discussão não é tão recente; esse mesmo grupo já vem estudando e debatendo os impactos ambientais da Nefrologia e da diálise há alguns anos, com publicações em periódicos internacionais como Kidney International, Hemodialysis International e Seminars in Dialysis”, explica.
O assunto é pouco discutido no Brasil e ainda há um caminho longo a percorrer na sustentabilidade. O primeiro passo, no entanto, precisa ser dado já: entender o conceito e reconhecer sua importância.
Dr. Moura conta que, atualmente, existem 758 centros de diálise no Brasil, com 126.583 pacientes renais crônicos em tratamento dialítico. “Se considerarmos que 92,1% destes pacientes realizam hemodiálise, cerca de 116.500 estão em tratamento no país, número que cresce a cada ano. Baseado nesses valores e em estudos prévios que calculam o gasto de água por paciente em tratamento, estima-se que 9 bilhões de litros de água por ano são usados apenas pela hemodiálise no país, sendo que cerca de dois terços dessa quantidade é constituída de água potável – normalmente descartada, mas que poderia ser reutilizada para diversos fins. Além disso, estimando uma produção de 323 kg de resíduos por paciente9, mais de 35 mil toneladas de resíduos são gerados por ano pela hemodiálise no Brasil”, destaca o especialista.
Diferente de outros setores, onde práticas sustentáveis significam processos e produtos mais caros, na diálise ocorre o oposto. Por exemplo, o reaproveitamento da água do rejeito, o uso de fontes de energia sustentáveis (como a solar) e outras práticas listadas na tabela podem gerar diminuição importante de custos para o centro de diálise, que trabalham com margens apertadas e repasses abaixo do padrão internacional. Apresenta-se, portanto, uma janela de oportunidades para minimizar o impacto ambiental, poupar recursos e reduzir custos dos centros de diálise, o que tem sido descrito como uma iniciativa ganha-ganha: bom para a sociedade, para o meio ambiente e para os centros de diálise.
“Existem algumas poucas barreiras para implementação dessas ideias no Brasil e a principal delas é a cultural. Enquanto aqui ainda precisamos discutir o conceito de diálise sustentável, um documento (Position Statement) está sendo discutido pelo grupo australiano em parceria com a Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN)”, afirma o nefrologista, que pontua: “um dos tópicos propostos, ainda não aprovado, chama atenção: para todas as reuniões da ISN será avaliado se podem ser conduzidas por teleconferência ou videoconferência, ao invés de presenciais, com o intuito de minimizar as emissões relacionadas às viagens. Nesse mesmo momento, rejeitamos, nacionalmente, a Telemedicina, com pouca consideração ao (positivo) impacto ambiental da prática. Será que estamos preparados para essa mudança de paradigmas no Brasil?”
Para o médico, os nefrologistas são, ao mesmo tempo, agentes causadores e vítimas do impacto causado pela diálise e, também, os grandes responsáveis por liderar a mudança. “Muitos desafios e oportunidades existem no campo da sustentabilidade na diálise e é necessário um plano de longo prazo para a Nefrologia brasileira. O estímulo a essa discussão, publicações sobre o assunto, a criação de um Comitê de Diálise Sustentável, o debate acerca do tema em sessões científicas nos congressos e encontros nacionais são algumas propostas. Por ora, saber da existência, da possibilidade real e da importância de práticas menos danosas ao meio ambiente já é um passo importante na caminhada para uma diálise sustentável no Brasil. É fundamental que esse primeiro passo seja dado, de preferência, da forma mais colaborativa e inclusiva possível, envolvendo profissionais de saúde, governo, sociedade e pacientes, que precisam não apenas exigir, mas reconhecer valor em práticas sustentáveis no seu tratamento”, finaliza Dr. Moura.
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